LAGERS E IPAS DE MASSA
O isolamento da primeira cepa de levedura Lager, em 1883, culminou em novas técnicas de cultura pura desse micro-organismo. Logo, todas as cervejarias da época almejaram produzir esse estilo (inovador para a época).
A imigração alemã aos EUA, no final do século XIX, introduziu as cervejas Lagers inspiradas nas suas Pilseners tradicionais. Com o tempo, essas bebidas sofreram acréscimos de adjuntos, em busca de uma maior neutralidade sensorial para agradar ao paladar demanda daquele tempo.
Após a Lei Seca, as cervejarias americanas novamente começaram a produzir esse tipo de cerveja, culminando no que hoje se chama de “American Lagers”, estilo que domina a preferência mundial, na esteira da hegemonia econômico-cultural americana que se espalha pelo globo.
Dessa forma, criaram-se oligopólios da cerveja, que atualmente espalham Lagers de massa no mundo todo, dominando o mercado de forma agressiva (com estratégias mercadológicas e com lobbies governamentais, restringindo a concorrência).
Por outro lado, nos anos 70, um novo movimento surge nos EUA: cervejeiros caseiros reinventam vários estilos europeus já existentes, culminando no início da revolução da cerveja artesanal. Daí, nasceram as APAs, american IPAs e NEIPAs, entre outros estilos.
Da mesma maneira, esse movimento se espalhou pelo mundo, criando um novo mercado para as cervejarias, e um amadurecimento de sua demanda em geral, que agora estava sedenta por novos aromas e sabores na cerveja, fugindo das Lagers de massa.
Entretanto, esse novo mercado de cerveja artesanal está perigosamente se centralizando na oferta de IPAs, APAs e NEIPAs. Já há um preocupante engessamento de preferência de mercado, que se pode denominar de “IPAs de massa”, o que já está gerando: a) uma mesmice na produção cervejeira; b) uma alienação sensorial do público consumidor; c) o esquecimento de estilos clássicos importantes e tão deliciosos quanto uma IPA.
Isso ocorre, em grande parte, porque as cervejarias e estabelecimentos revendedores agem apenas reativamente ao mercado (onde as IPAs concentram as vendas artesanais), e também pelo comportamento dos consumidores, que estagnaram na “fantasia do lúpulo” e se recusam a experimentar novos sabores.
Torcemos para que chegue um dia em que, nas taps do dia-a-dia, haverá tantas cervejas
alemãs, inglesas e belgas quanto as IPAS de massa…
Túlio Siqueira